Pretendeu-se materializar uma casa que respondesse ao programa definido pelos clientes e, ao mesmo tempo, se ajustasse à topografia natural do terreno, que apresenta uma regular pendente sobre a encosta norte da ilha de S.Miguel. Queríamos criar um objeto arquitetónico que interferisse o menos possível com a morfologia existente. O exercício da arquitetura é sempre difícil porque precisa de violar a natureza, sem a destruir.
A beleza surge precisamente entre o equilíbrio entre o artificial (obra criada) e o natural. Assim sendo, optámos por criar uma casa de um único piso e uma cave, possibilitando criar uma composição de plataformas que reproduzem os socalcos da encosta.A conceção horizontal, que se desenvolve sobre a interseção de dois volumes, o do piso térreo e o da cave, acompanham o declive natural do terreno até ao mar. Esta simbiose com a natureza privilegia a arquitetura, uma vez que esta tira partida das características rurais do terreno e da vista sobre o mar. A implantação da casa está no primeiro terço do terreno, de modo a garantir um razoável distanciamento à via pública e, porém, afastado do limite do domínio público marítimo.
O piso térreo alberga os espaços vivenciais íntimos e de lazer e a cave acolhe os espaços predominantemente técnicos. Sobre as suites e a ampla sala de 80m2, abre-se um desafogado terraço com uma piscina que, através do efeito visual de ponto de fuga, aparenta abraçar o mar.
Previu-se, ainda, a recuperação pontual dos muros limítrofes existentes, em pedra seca de basalto aparelhada à mão, que no seu conjunto confere ao terreno, características predominantemente rurais. Por fim, optou-se por assumir o betão e o branco (entendida como cor neutra), de forma a aproximar a casa às tolidades das rochas basálticas escuras ou da espuma branca das ondas do mar da encosta norte.